quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O ser humano adora uma notícia sensacionalista



ACIDENTE GRAVE OCORRIDO HÁ POUCO NA MARGINAL DO TIETÊ, ENVOLVENDO UM ÔNIBUS E UMA MULHER GRAVIDA! VOCÊ ACOMPANHA AGORA IMAGENS EXCLUSIVAS, DIRETAMENTE DO NOSSO HELICÓPTERO ÁGUIA DOURADA QUE JÁ ESTÁ SOBREVOANDO O LOCAL DO ACIDENTE.




Pronto!, motivo mais que suficiente para o Datena garantir a audiência. Tem até programa vespertino de domingo fraudando noticias para vencer a concorrência. Quanto mais tragédia, melhor. O ser humano é assim, tem um lado cruel, gosta de ver sangue. Desde da antigüidade, o sangue (dos outros, obviamente) faz aumentar o ibope. Os romanos lotavam as arenas para ver gladiadores se enfrentarem num circo de violência desmedida, se divertiam ao assistir leões famintos devorarem cristãos, entre eles mulheres e crianças. Ainda hoje, em vários países onde as touradas são permitidas, as pessoas sentem prazer ao acompanhar o ato covarde de um homem treinado e armado de uma espada (traiçoeiramente bem escondida atrás de uma capa vermelha) humilhar e matar um boi.

É quase impossível, ao estar diante da TV, controle remoto na mão, zapiando (compulsivamente como eu), não parar no canal de esportes que está transmitindo o Ultimate Fighter (campeonato de lutas de vale- tudo).
Agora entendo: não foi à toa que a flagelação e morte de Jesus (com todos os requintes de crueldade que bem conhecemos) tenha sido um espetáculo para muitos na sua época, não é à toa que disputaram suas vestes. Todos queriam uma recordação daquele show de horrores. Enquanto viam o sofrimento e o sangue de Cristo, não se davam conta do que realmente estava acontecendo: um espetáculo de salvação, um show de amor, o véu do templo se rasgando em duas partes e as portas do céu se abrindo definitivamente para a humanidade.

É inegável: o ser humano adora uma notícia sensacionalista... Mas não nós, que já tivemos nossa experiência de Deus, nascemos de novo e fomos transformados pelo poder da oração. Nós estamos livres, leves e soltos, porque somos da Igreja e não somos mais assim, não é verdade?
Não, não é...

Ainda carregamos o vício do sensacionalismo e, apesar dos anos de caminhada, ainda me impressiona e incomoda a forma como nós, cristãos, também adoramos uma história cheia de tragédias. Isso mesmo, pois exibimos incessantemente em qualquer reunião, encontro, experiência de oração, aprofundamentos, pessoas testemunhando o quanto eram más, o quanto aquela garota se prostituía, o quanto aquele rapaz se drogava (ou vice-versa), o quanto aquele homem era vil, o quanto aquela esposa apanhava do marido, quantos desafetos aquele ex-traficante “deitou” na impulsividade de sua automática. A gente acha o máximo e aplaude.

Chegamos ao ponto em que um quer contar uma história pior que a do outro, um quer ter o passado pior que o do outro, só para ter o testemunho mais forte, “mais abençoado”. Não duvido nada que em alguns casos hajam até exageros. Vai ver que neguinho fazia aviãozinho e já sai contando que era quase um Fernandinho Beiramar, talvez o cara exagerou no vinho branco na formatura da prima e dá testemunho de que teve sérios problemas com a bebida, que “encharcava” feito um alcoólatra, aliás, problema com álcool mesmo tem o Corcel II do meu Pai, mas isso é outra história...
Continuando, eu sei que o testemunho é fundamental na Igreja e no processo de evangelização principalmente; eu não estou aqui sendo contra eles, em hipótese alguma. Muito pelo contrário, eles me comovem e sei o quanto servem como exemplo e incentivo para aqueles que estão no fundo do poço.

Mas é só isso que existe? Jura que não tem outra coisa? Não é à toa que o mundo sacaneia a gente cantando “eu era um bêbado, e vivia drogado...”. Poxa! O cristianismo é só isso mesmo? Você está certo disso??? Posso perguntar?

Onde estão aqueles corajosos que resistiram bravamente para dizer “eu nunca coloquei nada de droga na minha boca (se estende para nariz, veia, etc. rs’)” Quem vai incentivar a importância da família dizendo “Eu nunca causei preocupações para meus pais, sempre procurei ser bom filho porque eles sempre foram para mim os pais mais maravilhosos do mundo”? Quem vai dizer “eu me esforcei e estudei muito, sempre, porque sonho em ser alguém, ajudar a construir um futuro melhor para mim e para meus semelhantes”? “Quem vai dizer “eu guardei minha virgindade, vivi um namoro santo e só tive relação sexual após o casamento”?

A Igreja está cheia dessas pessoas, mas elas estão caladas, talvez por nossa própria culpa que não as deixamos falar. Lá fora, no mundo, está cheio de gente normal, que estuda, que trabalha, que é honesta, mas acima de tudo pessoas que estão com seus corações vazios e precisam saber que nossa igreja é o melhor lugar para elas. Deus é a melhor opção para a vida dessas pessoas também.

Será que isso não dá ibope?

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